quarta-feira, 13 de setembro de 2017

OUTONO, O RETORNO AO EQUILÍBRIO

À medida que se aproxima o equinócio de Outono no próximo dia 22 de Setembro pelas 21h, fácil e gradualmente vamos sentindo um novo retorno ao equilíbrio entre a luz e a sombra. A Terra volta a alinhar-se num dos pontos definidos pela interseção entre o plano eclíptico, o plano equatorial terrestre e a esfera celeste, em mais um encontro de equilíbrio equinocial, na eterna dança cósmica por onde todos passeamos de forma mais consciente ou inconsciente. Com este retorno ao signo da Balança, o ciclo anual de crescimento e abundância, iniciado na Primavera última e culminado no Verão que termina, dá lugar a um abrandamento e acalmia das forças da natureza. Tudo o que anteriormente cresceu para a luz dominante, começa a minguar e a morrer, no seu lado mais exterior, à medida que a sombra retoma a sua posição de predomínio. É neste período de primazia da sombra face à luz que se inicia o ciclo da semente interior, o preparar do gérmen, da forma, da vida e do amor do ciclo de renascimento primaveril seguinte, se vier, quando vier...

Os excessos do Verão, esse apogeu luminoso do impulso primaveril, chega ao fim. A Terra evidencia o seu cansaço e precisa de hibernar. Tudo se direciona para um novo equilíbrio dos elementos. Para muitos dos habitantes no hemisfério norte, é tempo de regressar à rotina e acalmia. Acabam-se assim os longos, festivos e radiantes dias de calor e abundância estival que muito nos alegraram, mas que também muito nos esgotaram, e tal terra seca, estéril e sedenta de água das temperaturas quentes e secas dos últimos dias de Verão e das últimas colheitas do ano, apresenta-se pronta para se casar com as primeiras chuvas de Outono, águas que lhe trarão uma nova vida e uma fertilidade futura, assim os homens também precisam de humedecer e arrefecer um pouco os seus comportamentos e retornar ao equilíbrio, de forma pacífica, em alegria e aceitação.

À medida que a temperatura desce e o brilho do Sol diminui, é tempo de desacelerar, repousar, sossegar e acalmar um pouco da azáfama das “colheitas” de Verão. O nativo de Balança, reflete um pouco deste tempo de acalmia, o de viver descontraído e sereno, desejando não encontrar controvérsias, conflitos ou desarmonias de qualquer espécie. Gosta de viver sem grandes excessos, complicações ou ostentações, de forma sorridente e simpática, ou seja, procurando sempre o equilíbrio das coisas, dos atos, dos gestos, das palavras... Isso não indica que sejam medianos em tudo, apenas procuram ser equilibrados e justos. A energia de Balança não gosta de extremos nem de magoar os outros. De natureza mais húmida que quente, a sua sentimentalidade anima tudo o que toca pelo seu calor comunicativo e tempera tudo com os matizes do seu estado de alma. Assim deverá ser o arranque Outonal equilibrado em todos nós. Ao contrário do impulso independente de Carneiro para agir, fazer acontecer e abrir caminho,
os tempos de Balança são o regresso ao equilíbrio feito através da cooperação, parceria, sinergia, união amorosa e pacifismo, que nos irá “aquecer” e ajudar a passar os próximos meses de frio e primazia da sombra. Harmonicamente juntos, será mais fácil!

Desta forma, após meio ano ou meia roda Zodiacal de crescimento para fora, de crescimento, amadurecimento e aperfeiçoamento individual, é tempo de sair de si e espelhar-se no casamento com o “outro”, a etapa seguinte via ao infinito, à via universal. Nos próximos meses, as agitações exteriores cederão o seu passo à vida interior, à meditação e ao despertar da espiritualidade, alcançada e vivenciada por fim pela compaixão universal do último capítulo Zodiacal, sob a égide de Peixes. Em muitas culturas dos trópicos, a queda da temperatura, o amarelar e o início da queda das folhas das árvores, precipitava o frequente culto de celebração do início da passagem da natureza aos infernos, à sua aparente morte, como era exemplo disso o culto a Adónis na Grécia antiga, entre muitos outros. Passagem aos infernos refletida em grande medida pelo signo de Escorpião, signo alquímico de grande poder e transformação pessoal, a designada porta oculta de Escorpião. E é nessa porta que, com o minguar cada vez maior da luz, a vegetação vai morrendo, o frio espreita, a sombra vence e tudo o que se opõe à vida luxuriante da Terra fértil e prometida de Touro impõe-se e morre nas águas presas e profundas de Escorpião. É neste período de Escorpião que ainda hoje se celebra o dia de Todos os Santos e o dia dos Mortos, reflexo arcaico de ser neste período que no trópico boreal se observa com maior intensidade a morte e transformação da Natureza. A energia de Escorpião reflete todo este processo de morte e transformação, processo que acarreta sempre alguma violência, complexidade e alquimia. Ao contrário da constância da forma e abundância da vida em Touro, Escorpião rege os últimos dias desse ciclo luxuriante, a morte e o desfazer dessas formas vividas, muitas vezes manifestado através de um ego levado ao extremo da cegueira e obsessão, antes de, obrigatória e compulsivamente, se dissolver na consciência e desígnios coletivos dos quatro signos subsequentes. São tempos de sentimentos fortes e profundos, pela inevitabilidade da morte das formas e forçada aceitação do desapego às mesmas. Escorpião associa-se a todos os processos sentimentais e psicológicos da vida mais profundos, aos mistérios da morte, do renascimento e das relações interpessoais mais passionais.

Ao chegarmos a Sagitário, a natureza encontra-se despida da sua luxuriante camada exterior de vida e beleza. O cair da noite precipita-se de dia para dia, parecendo que a sombra irá vencer a luz para sempre e tudo na Terra irá morrer na escuridão do tempo. Nesses pequenos dias pouco há a fazer no exterior, indicando-nos que, despidos das nossas vestes e de muitas outras quinquilharias mais ou menos reluzentes à luz exterior, o próximo caminho a fazer será para dentro de nós mesmos, de fora para dentro, numa celebração da vida interior que habita em nós, em busca do espírito que nos sopra e anima a cada segundo, esse templo eterno e omnipresente, o reconhecimento da centelha divida em cada um de nós. É tempo de viajarmos e de nos aventurarmos na demanda do cálice sagrado e ver mais além, ao mesmo tempo que

erguemos a cabeça para o céu noturno em busca de sentido para tamanha grandeza e vasto horizonte. Na primazia da luz tudo cresce para fora. Na primazia da sombra o crescimento direciona-se para o centro de nós mesmos, da nossa essência, na procura da sábia luz interior. Desta forma, Sagitário representa a época do ano em que os dias diminuem de tal forma que a única via é voltarmo-nos para o fogo interior, para a compreensão do espírito humano e da fé indivisível que transcende o ego, esse sujeito dividido. O verdadeiro sentido da vida ou Pedra Filosofal encontra-se no nosso centro, no nosso interior, no nosso coração, esse sopro divino1 que navega sobre as águas. Essa é a sabedoria eterna, que comanda as rédeas de uma mente perspicaz e ao seu serviço. Nesse Fogo interior podemos encontrar a aspiração mais humana e divina do ser, o seu pensamento mais puro, elevado e atuante, que nos faz acreditar e seguir a flecha da verdade. Após o desapego e a morte do ego2 individual de Escorpião há que unir forças para um objetivo mais elevado e transcendente, transpessoal e coletivo. Quanto mais perto do solstício de Inverno menor a luz exterior e maior deverá ser a luz interior a habitar cada um de nós e que nos deverá guiar nos ciclos vindouros, trabalho anual a fazer a cada retorno a Sagitário, a cada retorno ao solstício de Inverno3, tempo de crescimento e expansão interior.
Desta forma, em balança aceitamos pacifica e cordialmente o outro lado da Luz na verdade da partilha amorosa equilibrada e do seu inevitável reflexo de nós mesmos, em Escorpião desapegamo-nos do amor e desejo pessoal de todas as formas vividas, conquistadas e amadas, aceitando, muitas vezes dolorosamente, a alquimia da transformação pessoal, e em Sagitário viramo-nos para a Luz interior, proclamando e disseminando a sua verdade por todos os continentes. Todos os três signos, contemplam e matizam a energia do adulto maduro, aquele que alcança e se compromete em parcerias positivas e ganhadoras, refletoras de si mesmo, que abdica dos seus próprios desejos, manias, apegos e poderes pessoais de modo a poder entrar no túnel de luz que nos leva à essência e nos traz um sentido maior e mais amplo à Vida.

Por fim, aproxima-se o Inverno, o fim do ciclo boreal, onde podemos encontrar a liberdade da nossa individualidade no todo a que pertencemos, pelo trabalho conjunto e coletivo e pelo compaixão e universalidade por todos e pelo todo que nos habita. Mas antes de nos pormos a caminho de mais uma passagem pelo rio subterrâneo do esquecimento, após encontrar o cálice sagrado de Sagitário, há ainda que subir as escarpas da íngreme montanha, carpir o tempo e descer nas águas diluvianas do conhecimento universal e amor incondicional.


1 Ou Espírito Santo.
2 Morte simbólica do ego: a sua domesticação e resignação ao poder compulsivo que empreende, deixando de estar no comando e controlo das decisões e passando a iniciado, ou seja, passar a estar ao serviço do bem comum.
3 A natividade de Cristo – leia-se luz interior ou Ser interior Iluminado – colocada arbitrariamente três dias após o solstício de Inverno não é uma coincidência, nem uma ideia ou criação original cristã-católica, é simplesmente uma adaptação litúrgica, baseada no conhecimento das grandes tradições esotéricas há muito conhecidas, ou seja, no “renascimento do Sol”. 

Sem comentários:

Enviar um comentário