segunda-feira, 3 de abril de 2017

PRIMAVERA, ESSE ETERNO RETORNO

Por vezes é uso perguntarmos quantas primaveras já viveste, ao invés de perguntarmos a idade a uma pessoa, particularmente para perguntar ou indicar a idade de pessoas jovens. Primavera associa-se ao ser jovem, aos inícios, aos primeiros anos, onde a cada Primavera surge um novo impulso de consciência, renovação e crescimento. Se alguém te perguntar o número de Primaveras que tens, procura simplesmente indagar quantos retornos já viveste, quantos retornos já fizeste em teu redor, em redor do teu centro, do teu Sol. Quantas voltas já deste à tua própria luz? Quantos retornos já fizeste a ti mesmo? A vida na Terra é uma viagem de retornos em volta da luz solar, de ciclos e marés, uma espiral evolutiva de ilusão em ilusão, de retorno em retorno, fomentada pelo eterno jogo entre a Luz e a Sombra. O equinócio boreal de Março no hemisfério norte é um dos dois pontos vernais desta eterna roda viva, um dos dois pequenos e breves momentos de equilíbrio entre Luz e Sombra. Dois breves momentos numa dinâmica cíclica e contínua anual. Este equinócio boreal representa, no nosso hemisfério norte, o ponto de retorno a um novo reflorescimento da flora terrestre (da mãe Terra) e com ela um novo reinício do ciclo da fauna terrestre, assim como, de hábitos, afazeres e saberes culturais (e, por conseguinte, de Consciência) humanos. O ciclo anual a que assistimos, mais ou menos consciente, todos os anos, é um perfeito jogo de equilíbrio homeostático entre Luz e Sombra, tantas vezes representado em mitos e lendas, tais como os mitos gregos de Perséfone ou Adónis. Morte e renascimento não são apenas ciclos de uma vida, mas sim de todos os anos. Na próxima Primavera (exterior ou interior) seremos os mesmos, mas renascidos em maior magnitude em algum ponto de Luz, num aspeto, num traço de personalidade, numa ideia, numa ocupação, num sentimento. Ou em vários, grandes ou pequenos, mais visíveis ou mais discretos, mas que serão pequenos pontos de Luz renascidos, reanimados do domínio penumbral, transformados por ela e retornados ao domínio da Luz. Importa referir que Luz e Sombra são faces da mesma moeda. Não existe sombra, apenas ausência de Luz. O que importa compreender é a dinâmica inerente a este eterno jogo, compreender e aceitar este eterno retorno.
Após bem compreendida a dinâmica solar e o eterno retorno ao ponto de equilíbrio e de renascimento, quer dos seus efeitos casuísticos e visíveis, quer das respetivas interpretações ou significados intrínsecos e invisíveis, há que virar esse entendimento e compreensão para o eterno retorno solar interior, da consciência individual de cada um em movimento, em eterna expansão, internalizar a Luz e expandir a consciência, compreendendo que ela própria tens pontos de equilíbrio e de eternos retornos… Para mim, compreender é sinónimo de amar (aceitar em amor) e compreendendo o eterno retorno solar exterior e interior prover-nos-á de amar a vida na sua plenitude e respeito, amar os nossos corpos, os nossos sentimentos, todas as nossas circunstâncias, lugares, horizontes... e dos outros também, pacificamente, quer faça chuva ou faça sol! Podemos observar que uns chegarão rápido à compreensão externa do ciclo da luz, outros demorarão a contemplar essa magia do eterno retorno. Uns almejam compreender o seu retorno interior, outros há que ma sua perfeita cegueira nem se apercebem da sua “existência”. No entanto, cada um no seu ritmo, ao seu passo, sem julgamentos, sem discriminações, pois apenas a cada um caberá escolher o “tempo” ideal de iniciação para entender os mistérios da luz.
Quantas primaveras vivemos numa encarnação? Quantas vezes retornamos ao mesmo ponto de retorno? Neste perfeito sistema aberto não existem respostas fechadas e por isso tudo será relativo, tudo ficará em aberto e dependente do nosso encaixe nessa constante dinâmica homeostática. Há Primaveras todos os anos. Sim, a cosmologia onde encarnámos propõe-nos um renascimento todos os anos, para que não esqueçamos que essa é a Lei, que o eterno retorno é absoluto e constante. Mas outros ciclos, mais ou menos subtis, existem. Outros ciclos, dentro de ciclos. Através do horóscopo individual poderemos facilmente observar vários outros renascimentos ou Primaveras de duração diferente do ciclo anual, de dois em dois anos, de doze em doze, de trinta em trinta, ou mais largos no tempo, vividos à medida que nos afastarmos do nosso centro cósmico individual e partimos em busca duma (ou nos expandimos numa) consciência coletiva e plural, onde e sempre, a essa distância, voltaremos a ser Unos novamente.
Podemos observar vários pontos de retorno num qualquer horóscopo individual, várias Primaveras, como, por exemplo, o retorno solar. Mas existe um ponto vernal pessoal por excelência que nos é indicado pelo grau do nosso ascendente no preciso momento em que demos entrada nesta dimensão terrena. É o ponto que marca a Primavera de cada planeta que a ele retorne. É a Casa da Partida onde recebemos, não uns euros, mas uma boa dose de iniciativa, energia renovada, coragem, vitalidade e entusiasmo para mais um ciclo de dinamismo e aprendizagem, para mais uma volta ao estádio, para mais um passo na evolução da consciência, para mais um renascimento, para mais uma temporada de consciência. Este ponto vernal é matizado pela energia do signo que ascendeu para a Luz a leste do nosso horizonte no preciso momento do nosso nascimento. Daí a sua importância, a de retornarmos com frequência e eternamente, nesta encarnação, a esse ponto de equilíbrio, de renovação e impulso. Este signo, compreendido e aceite, ajuda-nos e impulsiona-nos a subir na espiral da vida e expansão da consciência. É uma escolha acordada. Este ponto individual marca profunda e aparentemente (também nos está no rosto) todo o renascimento da nossa passagem terrena. No espaço intemporal, no não espaço e não tempo, noutras dimensões, tudo será eternamente diferente.
Primavera, Verdade Primeira, é sinónimo de juventude e das primeiras experiências, experiências verdadeiras pela simplicidade e espontaneidade constantes. Todos os seus três signos, Carneiro, Touro e Gémeos, contemplam e matizam essa energia de juventude, do entusiasmo, beleza e frivolidade dos primeiros anos de vida, do princípio de querer ser, ter e comunicar. Uma idade prévia à memória de pertencer a algo, a um berço, a um passado, memória matizada pelo signo de Caranguejo.

Bem-haja a todos, deixando-vos nas sábias palavras de Maria Flávia de Monsaraz,

“Pela União das Almas, na Luz da Consciência”.

João Aivão, Março de 2017

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