quinta-feira, 22 de outubro de 2015



Cavaco e Silva, “O Encavacado”


Cavaco e Silva, ficará grandemente conhecido para a História com o Cognome de “O Encavacado”.

Isto não apenas pela sua postura meio encavacada de sempre, onde relembro alguns dos últimos encontros oficiais, como por exemplo, a sua postura de pedinte encavacado na visita oficial do primeiro ministro chinês há uns anos atrás ou os muitos pouco entusiastas discursos no parlamento português, europeu, entre tantos outros momentos. O único momento menos encavado e mais de peito cheio a que assistimos foi a seu veto à iniciativa de maior autonomia política da região autónoma dos Açores que, para quem bem se lembra, foi um momento bastante veemente e empolgado do actual Senhor Presidente.

E para deixar bem claro o jus a este seu justo e memorável cognome, deixa-nos no final da sua participação de política activa (não estou a contar vê-lo ressuscitado dos mortos como vez Mário Soares na sua última candidatura) um cenário político, para uns como eu deveras hilariante, para muitos outros deveras dramático, que passo a resumir em alguns dos pontos seguintes:

  1. O Exmo. Senhor Presidente teve a esperteza política-partidária de marcar eleições para Outubro deste ano ao invés de Junho, como seria “normal”, mesmo em cima do orçamento de estado e a pouco tempo de sair da cadeira, apenas e só por uma de duas situações: ou esperar por mais um trimestre com uma possível/previsível ligeira recuperação económica que desse mais alento (leia-se, votos) à coligação de direita ou simplesmente por burrice, pois sendo tão institucionalista nunca deixaria em consciência sã colocar o bom funcionamento das instituições em causa...;
  2. Após o resultado das eleições e num cenário parlamentar bem distinto do anterior, com a idade e conservadorismo que o distingue, decide inovar e dar o ónus da negociação (negociação que lhe pertence, ou seja, é mais que um direito, um dever político/processual) para um governo estável, blá, blá, blá (este blá blá blá não é pejorativo, apenas abreviativo, pois julgo-o bastante consensual) ao seu parceiro político Passos Coelho (parceiro fraco, fraquinho, fraquíssimo, como sempre o demonstrou e como mais uma vez se revelou frente ao actual opositor Costa que lhe mostrou o que é negociar mesmo sem maioria...), antes de auscultar a opinião dos restantes partidos eleitos, contando com o ovo no cú da galinha, ou seja, o PS anuir aos preceitos de governabilidade estável apenas no sentido da direita; aqui o próprio Senhor Presidente esqueceu-se, como a grande maioria dos analisadores, políticos e restantes populares de que o nosso sistema político não é Presidencial, mas sim Parlamentar, ou seja, quem ganha as eleições não é necessariamente a força política que teve mais votos, como o caso actual...; 
  3. O PCP surpreende tudo e todos e disponibiliza-se democraticamente para facilitar um entendimento e aliança à esquerda. Cai o “Carmo e a Trindade” no panorama político e analítico português (sim que para os congéneres europeus a cena é banal) e o pânico na direita portuguesa (pois esta irredutabilidade do PCP, em particular, e de outros partidos à esquerda foram sempre e apenas favoráveis à direita...) como se pode ver pelo enorme melão do teatral e fantástico “homem sério” Paulo Portas que só convence os menos sérios... O PCP, num golpe de génio, encava e ENCAVACA, em definitivo, o Cavaco!!! (psicanaliticamente trata-se provavelmente de um desejo há muito latente no inconsciente partidário do PCP, talvez desde a primeira maioria absoluta de Cavaco em 91);
  4. O PS aproveita a oportunidade histórica e, exceptuando uns bacanos com liberdade de opinião que se deve sempre preservar..., abre negociações mais que legítimas em democracia parlamentar como as forças partidárias da esquerda e deixa a direita no desespero e encava e ENCAVACA ainda mais o Cavaco!!!
  5. O Senhor Presidente com as escolhas que teve (ver ponto 1 e 2) e nas circunstâncias actuais (perto de sair da cadeira), independentemente de tomar uma (indigitar Passos) ou outra escolha (indigitar desde já Costa), ficará sempre ENCAVACADO, pois se indigitar Passos não envergonha a sua família política mantendo a “tradição” de indigitar a força política com mais votos (o que deveria ter feito logo), mas deita por terra toda a sua “filosofia” institucionalista de estabilidade política, maioria, blá blá blá (blá bklá blá que já referi ter bastante sentido, particularmente na actual situação economico/financeira dos país), envergonhando-se a si próprio, ou seja, não envergonha a família política mas envergonha-se a si mesmo. Caso contrário, se indigitar Costa ficará firme e hirto na sua “filosofia” institucionalista de estabilidade política, acrescentando ainda o confirmar da sua inovação política (ver ponto 2) e a valorização de ter desafiado uma “tradição” que não é normativa, mas envergonha a sua família política.


Termino reiterando que, de acordo com os factos políticos e por sua inteira responsabilidade, Cavaco e Silva termina o seu mandato e actividade política de forma ENCAVACADA, tal como sempre foi a sua postura, legitimando em pleno o seu cognome de Cavaco e Silva O ENCAVACADO.

Pedro Fernandes
2015/10/22

2 comentários:

  1. Confesso que a minha cultura politica não é a melhor… no entanto sou uma observadora atenta sobre o que se passa à minha volta…e não gosto do que vejo!!!

    Como sempre, escreves o que sentes.

    O Cognome é perfeito o “Encavacado”, mas indo buscar o significado desse adjectivo que transcrevo: (Que sente aborrecimento; que está contrariado; zangado; que está repleto de vergonha; envergonhado), é pena que o Senhor Presidente não se sinta dentro dele, para assim cumprir o ditado popular:
    “Quem está mal, que se mude”

    Forte abraço,
    “Semente de Tamarindo”

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